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07/08/2014

Já fui para Portugal

Faro - Portugal

O gajo que deu as caras pelo Já fui para... tem tanta história para contar que uma entrevista só não vai ser suficiente! Por hora, vamos dar uma passadinha no "segredo descoberto da Europa". Bem-vindos a Portugal!

Quem é você?
Ettore Stefani, 23 anos. Sou publicitário e trabalho como redator e social media. Um dos meus maiores hobbies é viajar. Não só viajar e turistar, mas conhecer a cultura do lugar.

Porque você viaja?
Porque é diferente, porque eu saio da minha zona de conforto quando eu viajo. Eu vou ter que conhecer outras pessoas, interagir com uma cultura que eu não conheço, usar uma moeda que eu não conheço, provar comidas que eu não conheço... Eu acho que sair da zona de conforto significa amadurecimento. E é por isso que eu viajo, para amadurecer.

E porque você escolheu Portugal?
Na verdade foi Portugal que me escolheu. Fui para lá através de uma parceria que existia com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), onde eu me formei. Resolvi abraçar esta oportunidade, já que não existem muitos intercâmbios para a área da comunicação e também porque queria muito ir para a Europa.

Qual foi a maior dificuldade que você teve durante o intercâmbio?
Eu não tive muitas dificuldades. Na cidade que eu morei em Portugal, Faro, que fica ao sul, os portugueses eram um pouco mais provincianos. Um povo que tem um pensamento mais conservador, mas não que isso tenha sido algo muito difícil de lidar. Arrumar a casa foi muito difícil. Eu morava com mais seis pessoas, que fizeram o mesmo intercâmbio que eu pela UFSM. Inclusive as duas pessoas com as quais eu divido apartamento hoje moravam comigo em Portugal. Ter ido com pessoas conhecidas talvez tenha dificultado para que eu me relacionasse com outras pessoas, porque eu já fui na minha zona de conforto.  Viajar sozinho fora de Portugal foi desafio. Procurar uma casa lá também foi. Precisamos nos mudar porque tivemos problemas na primeira casa em que moramos.

E o que você mais gostou?
Em Portugal o que eu mais gostei foi da alimentação porque era muito barato e a gente comia muito (risos). A cidade que eu morava tinha um pôr do sol maravilhoso. A região do Algarve, onde eu fiquei, é conhecida como “o segredo descoberto da Europa”. É lindo, tem praias lindíssimas, o pessoal vem de outros países da Europa para ir lá. Era muito bom viver em uma cidade que tinha um porto, a gente ia para a praia de barco, eram experiências muito boas que eu nunca tinha vivido aqui no Brasil. Viajei para outros países da Europa, e o que mais gostei foi de ter conhecido gente de muitos lugares. Fiz amizade com austríaco, com alemão, com búlgaro, com croata, italiano, com chinês, japonês... E esta troca de realidades faz com que você pense o seu país de outro jeito. É muito boa esta interação e este intercâmbio cultural. Embora eu morasse em Portugal, tive a chance de conhecer pessoas de muitas outras nacionalidades.

Albufeira - Portugal

Para quais países da Europa você viajou?
Fui para a Inglaterra, Itália, Áustria, Hungria, República Checa, Marrocos, Espanha, Alemanha e Holanda.

O que você não imaginava que iria encontrar/acontecer em Portugal ?
Eu não pensei que eu teria dificuldade para entender o idioma português em Portugal, e foi muito difícil nas primeiras aulas que eu tive na universidade de lá. Era muito complicado, eu não entendia a metade do que eles diziam em aula. Em relação aos outros países que eu visitei, tive várias aventuras. Como eu só fazia programas com um custo mais baixo, eu viajava muito com empresas aéreas de low cost e ficava nos piores albergues. Em Marrakesh a gente teve vários problemas. Eu fui com uma amiga e nós ficamos em uma zona muito pobre, em um hotel que custava cinco euros por dia. Era muito ruim, a parede do quarto caiu, o ralo do banheiro entupia. Um dia nós queríamos comer e pedimos uma indicação para um cara. Ele queria que pagássemos pela informação e nós não quisemos. Primeiro ele nos levou em um lugar que cobrava 10 euros, mas não queriamos pagar isso. Aí quando ele viu que nós éramos pobretões, ele nos levou para um lugar muito ruim. Nós pedimos uma porção de azeitonas, e no meio encontramos caroços de azeitona roídos! Alguém já tinha comido aquilo! Foi a viagem mais louca, mas a que me proporcionou mais experiências. Eu voltaria e faria tudo de novo!!! Depois do Marrocos eu fui para a Itália e o meu dinheiro acabou! Eu tinha programado errado, aí precisei pedir para os meus pais me mandarem. Eu não sabia o que fazer, para onde ir. Nós sentamos na calçada com as malas e pensamos que não teríamos o que fazer, não tínhamos como pagar o hotel e nem como comer.

E em relação à cultura, teve algo difícil de se acostumar?
O vocabulário foi engraçado no início. Eu lembro que na primeira vez que eu fui para a aula a professora pediu para que eu me apresentasse. Depois que falei, ela me disse “ah, mas eu já te vi por aqui!” e eu falei “sim, no primeiro dia que eu vim aqui a senhora me levou para a sala.”. E quando eu falei isso todos os alunos olharam para mim com uma cara de espanto e a professora falou “aqui em Portugal ‘levar para a sala’ tem outro significado...”. Aí eu pedi desculpas, ia fazer o quê? (Risos). Não esperava tantas diferenças no idioma, foi engraçado. A cultura de “ficar” lá também é diferente. Eu fui namorando, então não fiquei com ninguém. Mas eu percebia que o pessoal brasileiro estava enlouquecido para ficar com outras pessoas, mas lá o pessoal é bem mais calmo, as pessoas não saem “se pegando” como no Brasil. Tem todo um processo de se conhecer até ficar. Se nós encontrávamos pessoas ficando em alguma festa, eram brasileiros com brasileiros, ou espanhóis, ou italianos. Na região onde eu morava, principalmente, os portugueses são bem mais conservadores, mais ortodoxos. Tinham algumas coisas chatas também. A gente percebia algum preconceito cultural em relação ao Brasil. As meninas ouviam alguns comentários do tipo “Ah, é brasileira? Quanto que é?”, sabe? Comentários chatos assim. Por ser uma região mais provinciana, a homossexualidade também não é muito bem aceita. Também tinha gente que não tinha paciência quando a gente não entendia o que eles falavam, não gostavam de repetir mais devagar.

Como era o relacionamento com os portugueses?
Eu não tinha um relacionamento muito próximo com os jovens portugueses para, por exemplo, de chamar eles para sair, ir a uma festa. Mas fiz algumas disciplinas na área de educação em que o pessoal era um pouco mais aberto, mais flexível, e aí eu consegui interagir um pouco mais. Tinha gente bem interessante que vinha e perguntava sobre o Brasil. Mas a maioria das pessoas com as quais eu convivi que não eram brasileiras eram de outras nacionalidades. Eu tinha dois amigos belgas, por exemplo, que faziam uma disciplina comigo. Eu nunca fiz nenhum trabalho de faculdade com portugueses, ou fazia com brasileiros ou com pessoas de outras nacionalidades. Mas talvez isso tenha sido um pouco de zona de conforto também. Como eu tinha amigos brasileiros eu ficava ali. Disso eu me arrependo, eu poderia ter interagido mais com os portugueses.

Você viajou para outros lugares dentro de Portugal?
Sim, eu fui para Lisboa, eu conheci algumas praias da região do Algarve, da qual Faro é a capital. As praias de lá são maravilhosas! Fui para Porto também, mas não nesta viagem e sim em outra oportunidade. A região do Algarve não é muito conhecida pelos brasileiros, e é uma região muito bonita, eu recomendo muito. É um turismo mais tranquilo, mais do interior. As praias são boas para relaxar e não tem muito movimento. Eu só fui encontrar praias tão bonitas quanto as dessa região quando fui para a Itália.

Lisboa - Portugal

Portugal é um país fácil para quem não conhece se achar?
Faro é muito fácil porque é muito pequena. A mesma coisa em relação à região do Algarve. É muito tranquilo de se locomover, a gente fazia tudo a pé. Era bem acessível. Porto também é uma cidade tranquila neste sentido. Lisboa por ser maior é um pouco mais complicado, mas para a gente que fala o idioma é mais fácil.  Só cuidar as questões do vocabulário. “Parada de ônibus” é paragem, “ônibus” é autocarro... Tirando isso é tranquilo, e o transporte é muito funcional.

Você teve alguma surpresa em relação aos países que você visitou? Algo que você sempre pensou que fosse de um jeito e quando chegou lá viu que era de outro?
A Alemanha me surpreendeu muito positivamente. Eu fiquei em couchsurfing em Bremen  e em Munique. Eu esperava que a Alemanha fosse um país frio, com pessoas que não me dariam muita assistência, e foi o inverso. Eu encontrei pessoas extremamente educadas. Berlim me conquistou de um jeito que eu não esperava. Amei a cidade, ela exala história em cada quarteirão e é muito linda. Budapeste também foi uma cidade que me deixou muito confortável e familiarizado, me senti muito em casa lá. Era algo que eu não esperava,já que eu nunca tinha ouvido falar muita coisa sobre o país. Tem um turismo histórico muito rico. Eu sempre quis conhecer a Espanha. Quando fui para Barcelona eu já imaginava que iria me surpreender, mas a cidade ganhou o meu coração. É a cidade dos meus sonhos. O clima latino misturado com o europeu, pessoas extremamente próximas, museus maravilhosos, uma vida noturna linda, uma arquitetura maravilhosa – mais ainda do que a noite. Então foi uma cidade que superou todas as minhas expectativas.

Riomaggiore - Itália

O que os brasileiros precisam para ir para Portugal?
Estudantes, como no meu caso, precisam de uma carta de aceite de uma instituição de lá e uma instituição que os represente aqui. Com isso o tramite se torna “muito mais fácil”. Isso porque eu tive que passar por uma entrevista no consulado de Porto Alegre, o atendimento não foi muito bom e cheguei a pensar que não conseguiria o visto. Não precisei de nenhum tipo de vacina na época. Como fui pela universidade precisei apresentar carta de aceite, as minhas notas, o meu currículo, cópias de documentos... então foi um processo burocrático meio chato. Mas eu tenho noção de que para pessoas que vão por conta própria, sem ligação com nenhuma instituição, é muito mais complicado. Mas até três meses, como turista, não precisa de visto.

Você tem alguma dica de leitura ou de filmes para quem quer viajar?
Sugiro que todo mundo que viaja para a Europa tenha o livro "O Viajante", que é atualizado todos os anos.

O Ettore recomendou (e eu também recomendo muito!) a leitura do blog Perdidos no Mundo, que relata as histórias vividas pela irmã e pelo cunhado dele, que largaram tudo e agora estão dando a volta ao mundo! Confere lá!


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