Faro - Portugal |
O gajo que deu as caras pelo Já fui para... tem tanta história para contar que uma entrevista só não vai ser suficiente! Por hora, vamos dar uma passadinha no "segredo descoberto da Europa". Bem-vindos a Portugal!
Quem é você?
Ettore Stefani, 23 anos. Sou publicitário e trabalho como
redator e social media. Um dos meus maiores hobbies é viajar. Não só viajar e
turistar, mas conhecer a cultura do lugar.
Porque você viaja?
Porque é diferente, porque eu saio da minha zona de conforto
quando eu viajo. Eu vou ter que conhecer outras pessoas, interagir com uma
cultura que eu não conheço, usar uma moeda que eu não conheço, provar comidas
que eu não conheço... Eu acho que sair da zona de conforto significa
amadurecimento. E é por isso que eu viajo, para amadurecer.
E porque você
escolheu Portugal?
Na verdade foi Portugal que me escolheu. Fui para lá através
de uma parceria que existia com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM),
onde eu me formei. Resolvi abraçar esta oportunidade, já que não existem muitos
intercâmbios para a área da comunicação e também porque queria muito ir para a
Europa.
Qual foi a maior
dificuldade que você teve durante o intercâmbio?
Eu não tive muitas dificuldades. Na cidade que eu morei em
Portugal, Faro, que fica ao sul, os portugueses eram um pouco mais provincianos.
Um povo que tem um pensamento mais conservador, mas não que isso tenha sido
algo muito difícil de lidar. Arrumar a casa foi muito difícil. Eu morava com
mais seis pessoas, que fizeram o mesmo intercâmbio que eu pela UFSM. Inclusive
as duas pessoas com as quais eu divido apartamento hoje moravam comigo em Portugal.
Ter ido com pessoas conhecidas talvez tenha dificultado para que eu me
relacionasse com outras pessoas, porque eu já fui na minha zona de
conforto. Viajar sozinho fora de
Portugal foi desafio. Procurar uma casa lá também foi. Precisamos nos mudar
porque tivemos problemas na primeira casa em que moramos.
E o que você mais
gostou?
Em Portugal o que eu mais gostei foi da alimentação porque
era muito barato e a gente comia muito (risos). A cidade que eu morava tinha um
pôr do sol maravilhoso. A região do Algarve, onde eu fiquei, é conhecida como
“o segredo descoberto da Europa”. É lindo, tem praias lindíssimas, o pessoal
vem de outros países da Europa para ir lá. Era muito bom viver em uma cidade
que tinha um porto, a gente ia para a praia de barco, eram experiências muito
boas que eu nunca tinha vivido aqui no Brasil. Viajei para outros países da Europa,
e o que mais gostei foi de ter conhecido gente de muitos lugares. Fiz amizade
com austríaco, com alemão, com búlgaro, com croata, italiano, com chinês,
japonês... E esta troca de realidades faz com que você pense o seu país de outro
jeito. É muito boa esta interação e este intercâmbio cultural. Embora eu morasse
em Portugal, tive a chance de conhecer pessoas de muitas outras nacionalidades.
Albufeira - Portugal |
Para quais países da
Europa você viajou?
Fui para a Inglaterra, Itália, Áustria, Hungria, República
Checa, Marrocos, Espanha, Alemanha e Holanda.
O que você não
imaginava que iria encontrar/acontecer em Portugal ?
Eu não pensei que eu teria dificuldade para entender o
idioma português em Portugal, e foi muito difícil nas primeiras aulas que eu tive
na universidade de lá. Era muito complicado, eu não entendia a metade do que
eles diziam em aula. Em relação aos outros países que eu visitei, tive várias aventuras.
Como eu só fazia programas com um custo mais baixo, eu viajava muito com
empresas aéreas de low cost e ficava
nos piores albergues. Em Marrakesh a gente teve vários problemas. Eu fui com
uma amiga e nós ficamos em uma zona muito pobre, em um hotel que custava cinco
euros por dia. Era muito ruim, a parede do quarto caiu, o ralo do banheiro entupia.
Um dia nós queríamos comer e pedimos uma indicação para um cara. Ele queria que
pagássemos pela informação e nós não quisemos. Primeiro ele nos levou em um
lugar que cobrava 10 euros, mas não queriamos pagar isso. Aí quando ele viu que
nós éramos pobretões, ele nos levou para um lugar muito ruim. Nós pedimos uma
porção de azeitonas, e no meio encontramos caroços de azeitona roídos! Alguém
já tinha comido aquilo! Foi a viagem mais louca, mas a que me proporcionou mais
experiências. Eu voltaria e faria tudo de novo!!! Depois do Marrocos eu fui
para a Itália e o meu dinheiro acabou! Eu tinha programado errado, aí precisei
pedir para os meus pais me mandarem. Eu não sabia o que fazer, para onde ir. Nós
sentamos na calçada com as malas e pensamos que não teríamos o que fazer, não tínhamos
como pagar o hotel e nem como comer.
E em relação à
cultura, teve algo difícil de se acostumar?
O vocabulário foi engraçado no início. Eu lembro que na
primeira vez que eu fui para a aula a professora pediu para que eu me
apresentasse. Depois que falei, ela me disse “ah, mas eu já te vi por aqui!” e
eu falei “sim, no primeiro dia que eu vim aqui a senhora me levou para a
sala.”. E quando eu falei isso todos os alunos olharam para mim com uma cara de
espanto e a professora falou “aqui em Portugal ‘levar para a sala’ tem outro
significado...”. Aí eu pedi desculpas, ia fazer o quê? (Risos). Não esperava
tantas diferenças no idioma, foi engraçado. A cultura de “ficar” lá também é
diferente. Eu fui namorando, então não fiquei com ninguém. Mas eu percebia que
o pessoal brasileiro estava enlouquecido para ficar com outras pessoas, mas lá
o pessoal é bem mais calmo, as pessoas não saem “se pegando” como no Brasil.
Tem todo um processo de se conhecer até ficar. Se nós encontrávamos pessoas
ficando em alguma festa, eram brasileiros com brasileiros, ou espanhóis, ou
italianos. Na região onde eu morava, principalmente, os portugueses são bem
mais conservadores, mais ortodoxos. Tinham algumas coisas chatas também. A
gente percebia algum preconceito cultural em relação ao Brasil. As meninas
ouviam alguns comentários do tipo “Ah, é brasileira? Quanto que é?”, sabe?
Comentários chatos assim. Por ser uma região mais provinciana, a
homossexualidade também não é muito bem aceita. Também tinha gente que não
tinha paciência quando a gente não entendia o que eles falavam, não gostavam de
repetir mais devagar.
Como era o
relacionamento com os portugueses?
Eu não tinha um relacionamento muito próximo com os jovens portugueses
para, por exemplo, de chamar eles para sair, ir a uma festa. Mas fiz algumas
disciplinas na área de educação em que o pessoal era um pouco mais aberto, mais
flexível, e aí eu consegui interagir um pouco mais. Tinha gente bem
interessante que vinha e perguntava sobre o Brasil. Mas a maioria das pessoas
com as quais eu convivi que não eram brasileiras eram de outras nacionalidades.
Eu tinha dois amigos belgas, por exemplo, que faziam uma disciplina comigo. Eu
nunca fiz nenhum trabalho de faculdade com portugueses, ou fazia com
brasileiros ou com pessoas de outras nacionalidades. Mas talvez isso tenha sido
um pouco de zona de conforto também. Como eu tinha amigos brasileiros eu ficava
ali. Disso eu me arrependo, eu poderia ter interagido mais com os portugueses.
Você viajou para
outros lugares dentro de Portugal?
Sim, eu fui para Lisboa, eu conheci algumas praias da região
do Algarve, da qual Faro é a capital. As praias de lá são maravilhosas! Fui
para Porto também, mas não nesta viagem e sim em outra oportunidade. A região
do Algarve não é muito conhecida pelos brasileiros, e é uma região muito
bonita, eu recomendo muito. É um turismo mais tranquilo, mais do interior. As
praias são boas para relaxar e não tem muito movimento. Eu só fui encontrar
praias tão bonitas quanto as dessa região quando fui para a Itália.
Lisboa - Portugal |
Portugal é um país
fácil para quem não conhece se achar?
Faro é muito fácil porque é muito pequena. A mesma coisa em
relação à região do Algarve. É muito tranquilo de se locomover, a gente fazia
tudo a pé. Era bem acessível. Porto também é uma cidade tranquila neste
sentido. Lisboa por ser maior é um pouco mais complicado, mas para a gente que
fala o idioma é mais fácil. Só cuidar as
questões do vocabulário. “Parada de ônibus” é paragem, “ônibus” é autocarro...
Tirando isso é tranquilo, e o transporte é muito funcional.
Você teve alguma
surpresa em relação aos países que você visitou? Algo que você sempre pensou
que fosse de um jeito e quando chegou lá viu que era de outro?
A Alemanha me surpreendeu muito positivamente. Eu fiquei em
couchsurfing em Bremen e em Munique. Eu esperava
que a Alemanha fosse um país frio, com pessoas que não me dariam muita
assistência, e foi o inverso. Eu encontrei pessoas extremamente educadas. Berlim
me conquistou de um jeito que eu não esperava. Amei a cidade, ela exala
história em cada quarteirão e é muito linda. Budapeste também foi uma cidade
que me deixou muito confortável e familiarizado, me senti muito em casa lá. Era
algo que eu não esperava,já que eu nunca tinha ouvido falar muita coisa sobre o
país. Tem um turismo histórico muito rico. Eu sempre quis conhecer a Espanha. Quando
fui para Barcelona eu já imaginava que iria me surpreender, mas a cidade ganhou
o meu coração. É a cidade dos meus sonhos. O clima latino misturado com o
europeu, pessoas extremamente próximas, museus maravilhosos, uma vida noturna linda,
uma arquitetura maravilhosa – mais ainda do que a noite. Então foi uma cidade
que superou todas as minhas expectativas.
Riomaggiore - Itália |
O que os brasileiros
precisam para ir para Portugal?
Estudantes, como no meu caso, precisam de uma carta de
aceite de uma instituição de lá e uma instituição que os represente aqui. Com
isso o tramite se torna “muito mais fácil”. Isso porque eu tive que passar por uma
entrevista no consulado de Porto Alegre, o atendimento não foi muito bom e
cheguei a pensar que não conseguiria o visto. Não precisei de nenhum tipo de
vacina na época. Como fui pela universidade precisei apresentar carta de
aceite, as minhas notas, o meu currículo, cópias de documentos... então foi um
processo burocrático meio chato. Mas eu tenho noção de que para pessoas que vão
por conta própria, sem ligação com nenhuma instituição, é muito mais
complicado. Mas até três meses, como turista, não precisa de visto.
Você tem alguma dica
de leitura ou de filmes para quem quer viajar?
Sugiro que todo mundo que viaja para a Europa tenha o
livro "O Viajante", que é atualizado todos os anos.
O Ettore recomendou (e eu também recomendo muito!) a leitura
do blog Perdidos no Mundo, que relata as histórias vividas pela irmã e pelo cunhado dele, que largaram
tudo e agora estão dando a volta ao mundo! Confere lá!
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