Eis aqui a primeira viajante que topou dividir a sua experiência na “Já fui para...” (se você não sabe do que eu estou falando, dá uma olhada aqui). Confesso que me surpreendi com muita coisa e passei a refletir sobre alguns pontos da cultura indiana que eu nunca tinha parado para pensar. Espero que você goste da nossa conversa! Bem-vindo à Incredible India!
Quem é você?
Me chamo Bibiana Copetti, tenho 21 anos, faço psicologia na
UFSM (Universidade Federal de Santa Maria), e este seria o meu último ano, mas
dei um tempo na faculdade para fazer meu intercâmbio. Eu moro em Santa Maria
pela faculdade, mas sou de Alegrete. Trabalhei na AIESEC durante 3 anos e meio
e foi assim que eu comecei a viajar. Estou morando na Índia e trabalhando na
Tata Consultancy Service.
Por que você viaja?
Escrevi sobre isso no meu álbum de fotos da Índia. Todo
mundo se depara com um vazio existencial na vida. Um dia você acorda e não está
satisfeito, as coisas começam a incomodar, você fica entediado. Algumas pessoas
começam a academia, outras cortam o cabelo, outras compram roupas... eu viajo!!!
A primeira vez que eu viajei para a Colômbia foi por isso, eu precisava sair,
espairecer. Tinha vários outros motivos também. Eu queria conhecer a Colômbia
por ter vários amigos colombianos e eles serem apaixonados pelo país deles, mas
poderia ter sido outro país. Mas eu precisava viajar. Eu tinha visto muitas
pessoas viajarem e voltarem mudadas e eu precisava mudar, aí eu viajei. E
depois que você faz o primeiro intercâmbio vira um vício. Eu já fiz outras
viagens depois, basicamente turismo, para a América do Sul: Argentina, Uruguai,
Chile. Mas intercâmbio é outra coisa. Eu precisei guardar um dinheiro e seguir
a faculdade, aí demorou dois anos para eu viajar de novo, mas eu queira uma
experiência maior. Agora já faz quatro meses que eu estou aqui. Três meses já é
uma experiência muito diferente, mas quando você vê já passou. Com quatro meses
você já começa a acordar e pensar “porque eu fiz isso?”. É diferente, o ritmo
que você pega, o que você conhece, quem você conhece, quão próximo você fica
das pessoas, o que você conhece do país e tal. E eu queria uma experiência
assim, e eu queria em um lugar chocante. É essa a palavra, chocante! E eu sabia
que a Índia ia ser isso. Às vezes as pessoas acham que a palavra chocante é
ofensiva, mas não é. Me refiro ao choque cultural mesmo, algo tão culturalmente
diferente que tem dias que você fica cheia de experiências até às bordas, e aí você
precisa respirar e absorver aquilo.
Qual a maior
dificuldade que você teve até agora?
Acho que as relações interpessoais na Índia. Não é a comida, não é o transporte (que é bem louco), não é o trânsito nem nada, são as relações interpessoais. Por que primeiro, eu venho de um background de ciências sociais, de psicologia. E eu trabalho com gestão de pessoas aqui. E a gestão de pessoas na Índia não evoluiu de recursos humanos, ainda é aquela coisa dos anos 80. Esse foi um choque muito grande para mim. E nas relações de trabalho deles, gritar com uma pessoa, por exemplo, é normal. Eles tem uma relação diferente com o trabalho e com o trabalhador do que eu estava acostumada e do que eu prezo. Não que eu não tenha aprendido muitas coisas, porque gerir indianos não é uma coisa fácil, eles são sim mais enrolados, mas isso porque a visão deles de tempo é diferente da nossa. Eles não veem o tempo como algo linear, mas sim como algo circular, o que tem a ver com a religião também. Algo como “se eu vou reencarnar pra sempre, eu tenho todo o tempo do mundo. Então o que são 5 minutos?”. Então, por exemplo, se tu vai pedir para uma pessoa fazer algo amanhã, tu tem que ligar para ela várias vezes e ver se ela está fazendo, tem que mandar vários e-mails. Eles são bem enrolados. Também tem a forma como eles se relacionam com a figura da mulher. Porque eu sou muito feminista, e eu sabia que ia ser um grande desafio para mim. Eu não posso andar de short na rua aqui. E não é como um país islâmico, que tu não pode andar de short porque tem a religião por trás. Na verdade não tem nada, é só porque eles são conservadores, e aí eles acabam tendo um visão meio distorcida sobre as coisas. Até hoje eu encontrei só um indiano com quem eu consegui falar sobre isso. Ele falou que a índia tem muitos problemas com violência contra a mulher, não só estupro mas violência em geral, tanto verbal quanto física. E aí ele fala (ele, um indiano, homem!) que não entende porque as mulheres não podem usar short nas ruas, nas grandes cidades, se os maiores índices de estupro são nas áreas rurais, onde as mulheres só usam saia. Então não tem lógica. Outro problema que eu enfrento é o de que as pessoas não se abraçam, não se beijam, e não é que elas não demonstrem amor, mas demonstram de uma forma diferente. E eu sou muito expansiva, gosto de tocar nas pessoas e de ouvi-las, e aqui não rola isso - e no meu trabalho não rola isso. E nos dias que eu me arrisco a sair de short eu me sinto muito mal. Eles me fazer sentir muito mal por algo que, na verdade, eu não me sinto. Por que eles olham muito, descaradamente! Já olham quando você é estrangeira, e se está de short pior ainda. Então este foi meu maior desafio.
Ia mesmo te perguntar
sobre a questão da mulher na Índia. Você não corre riscos? Porque a gente ouve muito
falar sobre a violência à mulher...
Então, sinceramente eu acho muita coisa exagero. Porque se
você analisar, as taxas de violência da mulher da Índia e do Brasil são
parecidas. O negócio é que aqui vira notícia, principalmente o estupro, e se
espalha pelo mundo, porque a violência dos crimes é chocante. Geralmente
estupro aqui é gang rape, são cinco
caras que estupram uma mulher, e aí acaba chocando pela violência do crime. Eu
não em sinto insegura, mas eu tomo mais precauções do que eu tomo no Brasil,
certamente. Como eu falei, não ando de short na rua, quando eu volto de festas
eu não pego um taxi sozinha, nem os auto
rickshaw (tuc tucs). Nunca volto sozinha de uma festa de madrugada, sempre
divido o táxi com um menino que eu conheça e ele me deixa em casa e depois vai
para casa dele (nem que eu tenha que pagar a mais, mas é por uma questão de
segurança). São coisas básicas que eu tento tomar cuidado, mas não sou
paranóica como eles.Uma vez fui em um happy hour com meus colegas de trabalho e
voltamos para casa às 21h. O meu chefe não sossegou enquanto todas nós não
ligamos para ele para dizer que estávamos todas bem. Eles deixaram a cultura do
medo envolver eles de uma forma que só se fala nisso. O problema é que só se
fala nisso da boca para fora, a situação real não é resolvida. Por exemplo, tem
um vagão de metrô só para mulheres, o que eu acho uma medida paliativa. É
interessante porque o metrô realmente é muito cheio, mas isso não resolve o
problema do abuso. Eles não discutem o que está por trás porque é feio. É meio
ilógico, porque é o país do Kama Sutra, mas eles não falam sobre sexo. É um
país que tem altos índices de infecção por AIDS, mas falar de AIDS é uma coisa
feia. Eles têm esses pontos muito tabu dentro da cultura que não são
discutidos. Uma coisa que me deixa feliz é que no Brasil, pelo menos agora, a
gente está se propondo a discutir.Eles não falam sobre sexo porque na verdade o
Kama Sutra tem a ver com dar prazer ao parceiro, com procriação, então é uma
coisa sagrada e tal. Se não for isso, é
uma coisa feia. A mesma coisa da religião cristã, na verdade. Só que mais
conservadora.
O que você mais
gostou até agora?
Tudo!!! (Risos). É que não tem como dizer que eu não gostei
das coisas. Por exemplo, não é que eu não gostei das relações interpessoais,
mas é um desafio para mim. Eu amo a comida, eu amo como a Índia é colorida, eu
amo como as pessoas estão sempre de bem com a vida. Eu amo como as pessoas
conseguem viver com pouco. Eu amo como em um país que tem uma população
extremamente pobre quase não existem roubos! Quando eu falo em segurança, é em
relação à segurança da mulher. Assalto a mão armada: eu nunca ouvi falar na
Índia! E é uma população que estatisticamente, e pelo que a gente conhece de
sociologia, tinha tudo para ter estes problemas, mas não tem. E o que eu mais
gosto na verdade é como eu achava que o Brasil era o país da gambiarra, mas a
Índia é o gambiarra country! Eu adoro como as pessoas acham um jeito! As coisas
aqui acham um jeito de florescer. Apenas
30% da população na Índia tem emprego formal, o resto todo da galera se vira! Se
não tem oferta, se não tem geração de emprego, se o governo não está ajudando,
eles dão um jeito. E logo quando eu cheguei aqui o meu chefe falou: “ah, Brasil
e Índia, países em desenvolvimento, você vai ver que a gente tem muito em
comum!”. Eu falei “não, nem a pau! O Brasil é muito avançado que este país!”.
Eu estava em extremo choque cultural nos primeiros dias, apavorada com tudo. E
hoje eu entendo o que ele falou, tem muita coisa parecida. Principalmente este
espírito de “bola para a frente”, de empreender por necessidade, de florescer
porque precisamos disso. Eu gosto muito do jeito que a população indiana, no
fim das contas, se vira. E é um país cheio de cores, de sabores, de odores...
Bons e ruins...
Bons e ruins. Tem um cheiro permanente de poluição,
esgoto... e tempero! Tem cheiro de comida não importa onde tu vá! Sério, e isso
é muito bom! É inexplicável! Eu gosto muito da comida!
Eu acho que a comida,
por ser apimentada, seria um grande desafio para mim...
É que você se acostuma. Tem dias que eu quero comer coisas
que eu não sinta nada, tipo creme de leite (risos). Isso purifica o meu paladar
de novo. Mas você começa a perceber que não é pimenta. Algumas delas tem
pimenta, mas o resto é gengibre, açafrão, cominho, semente de mostarda, curry,
canela... São várias coisas diferentes que você vai sentindo, e o seu paladar
muda, o jeito que você sente as coisas muda. Tanto que tem mexicanos, que comem
comida apimentada, com jalapeño, e eles não gostam de comida indiana. É porque
no fim das contas geralmente não é pimenta, é todo o resto.
E tem algo que você
não imaginava que iria encontrar/acontecer na Índia e encontrou/aconteceu?
Eu vim de braços abertos e também conversei com muita gente
que já tinha vindo para Índia, tenho muitos amigos que moraram aqui durante
muito tempo. Mas mesmo assim, a primeira vez que você vê um elefante na rua é
tipo: “Oi? Tem um elefante do lado do carro. Ele pode pisar no carro. O que
está acontecendo?” (risos). Mas eu não esperava que eu não iria encontrar
supermercados.
Como assim???
Não existem supermercados na Índia!!! É sério, não
existem!!! Os supermercados que tem na Índia são caros porque são de produtos
importados, são feitos para estrangeiros que moram na Índia. Eles não têm
cultura de supermercado. Verduras você compra do cara da verdura que passa
todos os dias na sua rua de manhã. Aí tem o cara das frutas que passa todos os
dias de tarde. E aí perto de casa sempre tem vários bolichos – não tem outra expressão
senão bolichos. Não tem muita coisa, não são como mercados que você vai e acha
tudo o que precisa no mesmo lugar. Por exemplo, em um bolicho tem pão, mas não
tem xampu, aí você tem que ir na farmácia ou em outro bolicho. Aí neste tem
Yakult mas não tem leite. Aí tu tem que ir no outro para comprar leite. E é
assim. Outra coisa que eu não esperava é que as casas são organizadas em
colônias. São vizinhanças que os portões na entrada são fechados de noite. É
tipo um condomínio, mas não tem cara de condomínio, e eles chamam de colônias.
E todas as colônias, principalmente a que eu moro, são bem familiares. A que eu
moro é de classe média baixa. Elas são bem seguras e tem tudo o que eu preciso
perto. Tem o mercado da colônia, que é literalmente um market. É onde fica o cara do Xerox, o cara da verdura, o cara da
fruta, o eletricista... São três ruas que são o mercado. E para cá é a zona
residencial que tem os bolichos perto. E é comum você ter que negociar porque nem
tudo tem preço fixo, como as verduras, por exemplo. Tem, mas é o preço que o
vendedor oferece. Aí você diz “não, está caro!”, balançando a cabeça e mexendo
as mãos como eles (coisas que a gente aprende para se virar na Índia) e negocia
com eles. Ontem até um indiano estava rindo e dizendo que eu aprendi bem
demais! Que eu já estava conseguindo mais desconto que ele, apesar de eu não
falar híndi (risos)! A gente aprende algumas palavras em híndi para poder
negociar as coisas. Tem alguns produtos que tem um preço atrás que se chama MRP
(Maximum Retail Price) que seria o preço máximo que pode ser cobrado por ele.
Então, por estes produtos que vêm com o preço fixo o vendedor pode querer me
cobrar menos, mas não pode cobrar mais. Já vem o preço no produto por ser da
cultura indiana mexer nos preços. Existe isso por lei. Eles só podem alterar o
preço dos produtos importados. Se você não pechincha, geralmente eles vão
cobrar o dobro do preço normal, por você ser estrangeira. Não é sempre, mas
pode acontecer.
Alguma outra questão
cultural que foi difícil para você se acostumar?
Ah, tem várias pequenas coisas. O banheiro, por exemplo. A
relação deles com o banheiro é estranha. Tem aquele banheiro indiano, que é um
buraco no chão, com uma porcelana também no chão, e aí tu se agacha. Eu nunca
tive que usar porque todos os lugares que eu frequento tem o banheiro
ocidental. Mas no aeroporto, por exemplo, tem as duas opções. Ah, o jeito que
eles se relacionam com o lixo é muito estranho. O lixo é uma coisa ruim, uma
coisa em putrefação, então não é todo mundo que pode tocar nele. Sim, existe o
negócio das castas. É proibido por lei, mas existe. E eles não falam, mas quem
está nos piores empregos são os dalits.
Na maioria dos lugares na Índia não existe coleta de lixo provida pelo governo.
Caminhão de lixo não existe. O que existe é um cara, que a gente paga por mês,
algo como uns R$20, e ele tira o nosso lixo. Para onde ele leva, eu não
sei. Ninguém sabe! Existem alguns
depósitos de lixo perto das colônias que às vezes a gente vê. Mas o que
acontece com o lixo que está ali, para onde vai... eu não sei. Ninguém sabe!!!
E aí de novo a ambiguidade. O lixo é feio, é ruim, uma coisa que a gente não
deve tocar, mas tem um monte de lixo na rua, justamente porque as pessoas não
podem tocar. Elas só jogam ele para fora, o que faz com que as ruas sejam
bastante sujas. Não tira a beleza dos lugares, mas é sujo, a gente demora um
pouco para se acostumar.
E como são as pessoas
aí?
Eles são muito alegres, adoram cantar e dançar músicas
indianas. No geral essas músicas de Bollywood, e é impressionante como eles
dançam bem. É um povo muito alegre. Mesmo no calor eles se vestem dos pés à
cabeça. As mulheres geralmente usam sarees
ou um salwar kameez, que são blusas
de manga comprida com uma calça solta ou uma calça justinha, parecida com uma legging, e os homens usam roupas
ocidentais. Geralmente eles usam camisa e também sandálias com meias. Esse é o
indiano típico, mas também depende muito da classe social. E claro, um indiano
que você vê na balada não vai estar assim, ele se veste igual a gente. Eles tem
um sotaque muito forte, mas o inglês deles é perfeito. Quem estudou, foi para o
colégio ou faculdade, tem o inglês formal perfeito. Tem também a questão de
comer com as mãos. A mão direita é usada para comer e a esquerda para se limpar
no banheiro. Eles até usam colher, mas é mais para misturar o arroz com o
feijão, ou com a lentilha, e comem com o chapati
que é um pão que você corta com a mão e vai comendo com a comida. Eu me adaptei
bem, como assim e já estou acostumada.
E você já viajou para
outras cidades dentro da Índia?
Sim. Eu fui para dois lugares e planejo viajar para mais um
no final do mês. Eu fui para Rishikesh, que é uns 250km de Delhi, mas levamos 8
horas para chegar lá, porque as estradas são muito ruins e nós fomos de carro.
Passei o final de semana lá e foi muito legal. Também fui para Mumbai, que é a
maior cidade da Índia, para uma conferência do trabalho, então só tive tempo de
passear pela cidade no domingo. Rishikesh é sensacional, é a capital da yoga. Todo
mundo fala “não entra no Ganges, porque é poluído”, só que é um rio enorme, que
atravessa metade da Índia, e ele não é poluído em todas as partes. Rishikesh é
mais ao norte, é o portão dos Himalaias e é onde o Ganges nasce, então lá ele é
limpo. Então eu nadei no Ganges, e foi uma experiência sensacional! Nós
fizemos rafting lá, acampamos na praia, teve lual de noite. Aí eu acordei e
estava o Ganges lá na minha frente, e a água super gelada, e estava fazer 45°C.
Então foi sensacional! Rishikesh é uma cidade sagrada e é onde fica o templo de
Shiva. Ganges é a deusa Ganga. De acordo com a religião hindu, ela queria vir
para a terra , só que se ela caísse aqui ela a destruiria. Então Ganga pediu
para Shiva uma forma de vir sem destruir a humanidade. E Shiva, que é o deus da
destruição, ofereceu uma trança do cabelo dele para que ela pudesse vir. Então a
deusa Ganga sai de dentro do cabelo do Shiva. Tudo na índia tem uma explicação
sagrada, tudo tem mitologia por trás. Então toda a cidade de Rishikesh é
dedicada ao Shiva. Na índia a maioria da população é vegetariana, mas tem
algumas pessoas que ainda comem carne de galinha e de peixe. Já Rishikesh, por
lei, é vegetariana. E por ser uma cidade sagrada ela também é seca por lei,
então não se tem acesso à bebida alcoólica.
E tem algum lugar que
já lhe sugeriram visitar na Índia e você quer conhecer?
Eu tenho que conhecer Agra, onde fica o Taj Mahal, mas eu
vou para lá no inverno daqui. Agora faz quase 50° C lá, e você tem que esperar
em filas, então não é a melhor época. Mas um lugar que eu não posso ir embora
da Índia sem conhecer é Kashmir. Todo mundo diz que é o céu na terra. É uma das
regiões mais perigosas da Índia, porque é uma região de disputa com o
Paquistão, mas todo mundo que foi para lá me disse que é super tranqüilo, que
as cidades que eu quero visitar são mais turísticas, então não tem problema.
Não posso ir embora sem conhecer.
E tem alguma coisa
fora dos roteiros tradicionais que você possa indicar?
Eu acho que a Índia toda é meio fora dos roteiros tradicionais
(risos). Depois que eu terminar o meu intercâmbio eu quero fazer um mochilão de
um mês pela Ásia. Aí o plano é fazer Taiwan, Hong Kong, Camboja, Vietnã e
Tailândia. Poucas pessoas sabem que Vietnã – Camboja você pode fazer de ônibus,
e é barato. Mas na Índia eu ainda quero conhecer Rajasthan, Punjab, Kashmir.
Mas agora não é a melhor época para viajar, porque é a época de monções, então
chove todos os dias. A melhor época de viajar aqui é da metade para o final de
setembro até o final de fevereiro. E para ir para Rajasthan agora no verão não
dá, é muito quente. Quem mora lá sobrevive. Mas para a gente que é estrangeiro,
que vai para caminhar, conhecer o lugar, tirar foto não dá, a gente não
consegue. No sul da Índia faz 50° C todos os dias e chove todos os dias, então
não dá.
E a Índia é um país
fácil de se localizar para uma pessoa que nunca foi e não conhece nada?
Não!!! (Risos) Para ser sincera não! Eu vou ser bem sincera,
a Índia não é um país para um viajante beginner.
Se você já viajou para outros lugares, já fez um mochilão, beleza! Mas para
quem nunca viajou eu não recomendo porque é muito fácil de se perder aqui – e é
fácil de se desesperar também!! Se foi um intercâmbio pela AIESEC, por exemplo,
ainda tudo bem, porque você vai ter algum apoio. Mas se você vier para turismo
mesmo e for a sua primeira experiência, eu acho melhor escolher alguma coisa
mais tranquila para depois vir para a Índia. A não ser que você compre aqueles
pacotes turísticos, que você já tem hospedagem, guias, carros com ar
condicionado que vão te levar para todos os lados, aí tudo bem. Mas se você é
jovem, maluco e quer viajar sozinho, eu não recomendaria a índia como primeiro
lugar.
Tu teve alguma
surpresa em relação ao país? Alguma coisa que tu sempre achou que fosse de um
jeito e quando chegou aí viu que era de outro?
Acho que não. Eu tentei me preparar antes de vir, e também
vim de braços abertos. E todo mundo com quem eu conversei me disse “você vai
amar a índia se você for de coração e mente abertos”. Porque é outro mundo, então
não tem como você colocar os seus padrões ocidentais em um país asiático e muito
menos em um país como a Índia. Não tem como você mudar uma cultura milenar.
Eles já estavam aqui antes de os europeus quererem existir!!! Eu estava
conversando com uma colega de trabalho e ela falou “a Índia é maior em extensão
que o Brasil”. Aí eu mostrei para ela que não, que a extensão do Brasil é muito
maior. E ela me perguntou como nós nos virávamos para gerir o Brasil. E eu
disse que a gente não se vira, é muito difícil. Aí ela disse “tá, mas vocês
todos falam português.”. Na índia se
falam línguas diferentes. E não são dialetos, são línguas oficiais diferentes.
E ela questionou o porquê de os todos os brasileiros falarem a mesma língua, e
eu expliquei a questão da colonização por Portugal. E isso me fez pensar que se
os portugueses tivessem chegado ao Brasil mais tarde, talvez nos falaríamos
línguas diferentes, porque os indígenas falam línguas diferentes. Os ingleses conquistaram
a Índia há pouco tempo, menos de 200 anos. Então eles já eram consolidados como
povos diferentes, e não houve uma dominação tão grande como foi com o Brasil.
Eles inclusive usaram a Índia como uma forma de colônia diferente da que o
Brasil foi. Antes eu achava ruim o fato de serem faladas línguas diferentes
aqui. Hoje para mim é um exemplo de resistência de cultura, de povo, de
identificação, que talvez dificulte o gerenciamento do país e comunicação entre
eles mesmos, mas que hoje eu vejo como uma coisa positiva. Era algo que eu
tinha uma ideia antes de vir para cá e agora tenho outra.
Do que o brasileiro
precisa para ir para a Índia?
Tem várias coisas. A primeira coisa que tu sempre precisa
ter antes de viajar é uma frasqueira com os teus remédios até que você se
acostume ao lugar onde tu vai ficar. Vá ao médico e pegue receitas para tudo,
porque pelo menos nos primeiros meses você não sabe direito nem ir à farmácia,
e pode acabar comprando alguma coisa diferente do que você é acostumado a
tomar. O brasileiro precisa de vacina para a febre amarela, sem isso não entra
na Índia, mesmo tendo o visto. Se você não tiver, eles vão lhe colocar de
quarentena, durante 6 dias na verdade, e vão lhe deportar para o Brasil se você
não tiver. O visto para brasileiros sai super rápido, o meu saiu em 4 dias
úteis, sendo que tinha carnaval no meio. Você faz tudo por correio, é bem
fácil. É só acessar o site do Consulado da Índia no Brasil. Para quem mora no
sul é o consulado de São Paulo. Para quem mora no Rio de Janeiro e em Brasília
é a Embaixada da Índia que fica em Brasília. Aí é um procedimento um pouco
diferente. Mas é bem tranquilo, é só entrar no site deles. Eu tenho um business
visa de múltiplas entradas. A AIESEC tem uma parceria com o governo da Índia e
aí tem dois vistos especiais: um visto para intercâmbio corporativo e um visto
para intercâmbio social. Hoje a Índia não permite mais o business visa de um
ano, mas para os intercâmbios da AIESEC ela permite. Normalmente, este visto é
de 6 meses. Nesse caso, ao completar os 6 meses, eles pedem que tu saia do
país, entre de novo, e aí quem sabe eles dão mais 6 meses.
Tem países na Europa
que aceitam a entrada com visto de turista até 3 meses. Na Índia também é
assim?
Na Índia precisa. Brasileiros precisam de visto aqui até
para uma semana. Na verdade eles exigem isso de todos os países por causa das
tensões políticas entre Paquistão, Bangladesh e Índia. E se tu ficar mais de
180 dias no país, tu precisa te registrar no Escritório de Registro de
Estrangeiros na Índia nos primeiros 14 dias.
Se você quer saber mais histórias sobre a saga da Bibiana na
Índia acesse o blog A garota se mandou , onde ela faz relatos
desde o seu primeiro intercâmbio, na Colômbia.
Até a próxima viagem! ;)
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