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23/10/2014

Já fui para o Mundo

Cume do Nevado Pisco
O viajante de hoje foi para... bom, para o mundo! Mais do que boas histórias, a entrevista de hoje serve de inspiração para quem ainda não sabe se viajar é uma boa escolha.

1- Quem é você?
Neemias Santos da Rosa, 27 anos, nascido em Caçapava do Sul (RS).
A fachada: Arqueólogo doutorando em “Cuaterario y Prehistoria” pela Universitat Rovira i Virgili de Tarragona (Espanha).
A verdade: Aventureiro, viajante e aspirante a montanhista desde... que eu me lembre, sempre.

2- Por que você viaja?
Para provar que os dicionários estão errados. Em qualquer um deles, esquecidos em estantes por aí, ao lado da palavra “viajar” vem uma definição mais ou menos assim: “transportar-se de um lugar à outro; percorrer determinada distância objetivando chegar.”.
Bem, eu não concordo. Viajar é muito mais do que isso! Quem nunca pôs uma mochila nas costas, carregando apenas o necessário para sobreviver, jamais vai compreender o significado desse ato. Sair de casa e viajar pelo mundo não é apenas uma questão de tempo e dinheiro (a mais clássica das desculpas), é uma questão de coragem e amor próprio. Coragem para dar o primeiro passo e sair da velha e segura zona de conforto. E amor próprio para se permitir viver algo tão incrível e sensacional, mesmo quando a maior parte das pessoas ao teu redor absolutamente não consegue compreender a grandiosidade disso.
Assim, usando algumas das palavras de Henry Thoureau, escritas em Walden, eu viajo para viver de livre vontade, para obter toda a essência da vida, para aniquilar tudo o que não é vida e para que, quando morrer, não descubra que não vivi.

Paso Santa Rosa (5 mil metros de altitude) na travessia da Cordilheira Huayhuash

3- Por que você escolheu este lugar?
Já são tantos lugares que a pergunta correta seria: “Porque você escolheu esse estilo de vida?”
Ok. Listando mentalmente alguns fatos principais... ao longo dos últimos anos percorri 20 Estados brasileiros e 11 países. Em 4 dias e meio fui do Rio Grande do Sul à Rondônia de caminhonete. Passei 11 meses na Serra do Cipó (MG). Conheci o Pantanal, as praias do nordeste e a loucura de São Paulo. Bebi o melhor suco de açaí da minha vida no Tocantins e descobri que chove (e chove muito) no Piauí. Em 6 meses de selva, vi de perto uma Amazônia que só conhecia pela Tv, repleta de paisagens incríveis e de cavernas fantásticas que eu tive a oportunidade de explorar. Resolvi me aventurar lá fora e acabei morando na Europa... 2 longos anos sem vir ao Brasil. Curti a noite de Lisboa no inesquecível Bairro Alto. Passei um inverno inteiro nos Alpes Italianos (com – 12ºc e neve até os joelhos) e depois um verão (me sentindo dentro de um cartão postal). Em 1 mês no sul da França tive certeza de que realmente não gosto de salada e fui agraciado com a chance de passar horas dentro da Grotte de la Baume Bonne (um sítio arqueológico com ocupação humana datada em 400 mil anos BP). Desbravei cada canto de Roma. Assisti a Ópera Nabuco na Arena de Verona. Fui à Bolzano ver o Ötzi pessoalmente. Conheci o essencial de Londres em 24h e, agora, morando na Espanha outra vez, me tornei um grande admirador do Mar Mediterrâneo. Rodei mais de 2 mil quilômetros pelo Uruguai. De Santiago à Província de Los Andes, no Chile aproveitei 10 dias sensacionais. No Peru, estive nas galerias subterrâneas do templo pré-Inca Chavín de Huantar, conheci as lagunas mais incríveis da Cordilheira Blanca, atravessei a pé a Cordilheira Huayhuash (150 km em 10 dias; com uma mochila de 20 kg e muita determinação), escalei o Nevado Pisco (5.752 m) e me convenci de que lá de cima o mundo é mesmo ainda mais bonito.
Dividi apartamento com amigos portugueses, italianos, iranianos, camaroneses, croatas e indianos. Mas a lista de amizades é bem mais longa que isso... a estrada me presenteou com pessoas únicas de todas as partes do mundo... franceses, alemães, indonésios, espanhóis, ingleses, norte-americanos, mexicanos, guatemaltecos, chineses, sérvios, eslovacos, namibianos, suecos, colombianos, sírios, russos, australianos, sul-coreanos e muitos mais.. pessoas com quem compartilho histórias e que, cada uma a sua maneira, ajudaram a construir tudo o que eu sou.
Então... espera! Ainda preciso responder? = )

Colonia del Sacramento

4- Qual a maior dificuldade que você teve?
Não sei se é exatamente uma dificuldade, mas algo que sempre me incomodou é a burocracia gigantesca envolvida no processo de pedido de visto para residência na Europa, por exemplo. Além de serem muitos documentos, o processo às vezes é lento. Quando tudo corre bem leva cerca de 30 dias, mas em alguns casos pode chegar a 3 meses, o que acaba atrapalhando o planejamento dos viajantes mais desavisados.

5- O que você mais gostou?
Essa me parece a pergunta mais difícil de responder. Mas no fim das contas... as pessoas. Os lugares sempre são muito legais, mas as melhores memórias sempre são a respeito das pessoas que conheço no caminho.

6- O que você não imaginava que iria encontrar/acontecer em alguma de suas viagens, mas você encontrou/aconteceu?
Durante minha travessia da Cordilheira Huayhuash (Peru), nunca imaginei que no cume do Paso Siula, a 5 mil metros de altitude e depois de uma subida de 6h, encontraria uma simpática senhora Quechua vendendo coca-cola naturalmente gelada para todos os montanhistas que chegavam... foi tão cômico quanto inusitado.

Londres

7- E quanto à cultura, foi difícil de se acostumar em algum país?
Não... nunca. Na minha opinião, seja qual for o país, desde que se vá de cabeça aberta e tendo respeito pela cultura local, dificuldades de adaptação são muito raras. As diferenças são aprendizados.

8- Como são as pessoas?
Definir um estereótipo pode ser algo um tanto enganoso. Até porque a tua maneira de ser define a maneira que as pessoas serão contigo. Então, o melhor é ir viajar e descobrir pessoalmente = D

9- Você tem algo fora dos roteiros tradicionais para sugerir?
Andes peruanos, com certeza! Para quem curte esportes de aventuras é, na minha opinião, o melhor destino da América do Sul! Huaraz é parada certa para quem quiser fazer trekkings, escaladas ou turismo cultural.

Alpes Italianos

10- O que os brasileiros precisam para viajar para os países que você já foi?
Para a maioria dos países é necessário estar em dia com a vacina contra Febre Amarela.
Em relação à vistos, não são necessários para rodar pela América do Sul (na verdade nem mesmo o passaporte tem sido exigido por aqui). Na Europa é possível ficar até 90 dias como turista, sem qualquer tipo de visto, tempo suficiente para fazer uma baita EuroTrip.
Mas o quesito fundamental é realmente querer fazer isso. Não se importe com comentários do tipo: “Bah! Mas tu vai gastar tudo isso em uma viagem? Tá colocando dinheiro fora.” ou “Mas é perigoso andar sozinho por aí!”. Coloque sua ideia no papel. Monte seu roteiro. Ponha a mochila nas costas e viaje... tendo a certeza de que voltará sendo uma pessoa muito melhor, com os outros e consigo mesmo.


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